2000
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SETEMBRO
Sábado, 30 de setembro de 2000
TRANSFERÊNCIAS
Vencemos a batalha, mas não a guerra
No último
dia 11 de setembro todos os companheiros transferidos para outras unidades
da Rhodia, com exceção de três da Rhodia Poliamidas Santo André e dois da
Rhodia São Bernardo, foram colocados em licença remunerada por determinação
da empresa.
Segundo
nossa análise este fato foi decorrente de uma série de fatores propiciados
pela luta da Associação em várias esferas de atuação.
Em
primeiro lugar, logo que fomos coagidos a aceitar a transferência ingressamos
com ações na esfera trabalhista para tentar suspender a transferência.
Sendo que, de plano quatro companheiros que foram transferidos para Paulínia
foram beneficiados com esta medida, pois foram revogadas suas transferências
por determinação judicial.
Com
a transferência constatamos de pronto que as condições de trabalho nas
outras unidades da Rhodia não eram diferentes das encontradas em Cubatão,
principalmente em Santo André e Paulínia, onde foram detectadas emissões
de poluentes que ultrapassavam até o limite das dependências da empresa.
Como
não havia diálogo entre os transferidos e a gerência da Rhodia, partimos
para a atuação política de massa, informando os trabalhadores daquelas
unidades fabris, mediante panfletagem, da nossa condição e alertando dos
riscos que todos (nós e eles) corríamos em decorrência do risco de contaminação
resultante das condições adversas de higiene e segurança do trabalho.
Diante
deste fato fomos obrigados a nos submeter a cursos de requalificação profissional,
ministrados nas dependências do SENAI. Ocorre que, esta atitude da empresa
era apenas um subterfúgio para nos afastar dos problemas que observamos
existirem nas unidades fabris, pois estes cursos não priorizavam a aptidão
individual de cada um, além de não se enquadrarem dentro das funções estabelecidas
pela empresa para cada funcionário transferido, logo, restava desfigurada
a finalidade de requalificação profissional. A nossa retaliação neste sentido
foi comparecer aos locais determinados, mas sem participar dos cursos,
pois não queríamos correr o risco de uma demissão por justa causa diante
de uma posição mais radical de nossa parte.
Todos
estes fatos, segundo nosso entendimento, levaram a Rhodia a rever o seu
plano original, sem, no entanto abandona-lo, haja vista que as transferências
não foram revogadas – exceto daqueles que as conseguiram judicialmente.
No
decorrer do período de transferência notamos que as gerências regionais
da Rhodia estavam submetidas ao departamento jurídico da empresa, que responde
diretamente à Presidência. Assim, a pressão que exercíamos em nível local
criava um conflito dentro da diretoria da Rhodia, pois a nossa presença
próxima aos locais que emanam poluentes e devido ao conhecimento adquirido
pela Associação em matéria de saúde ocupacional, causavam um incômodo aos
gerentes regionais, que transmitiam seu receio à diretoria da empresa.
Também,
pesou a nosso favor, o fator econômico suportado pela Rhodia de custear
treinamento sem uma previsão de término, uma vez que a questão da transferência
esta sendo discutida judicialmente e dependerá de perícia no local para
averiguar as condições ambientais, uma vez que temos restrições médicas
que impedem a exposições a produtos químicos de qualquer natureza e independente
de qualquer grau de tolerância.
Neste
sentido, houve uma perícia na área da Rhodia Poliamidas Santo André, decorrente
de uma medida cautelar impetrada por três companheiros visando sustar a
transferência, que coloca em dúvida a isenção do perito judicial, na medida
que aquele profissional afirma, dentre outras aberrações, não existirem
produtos químicos naquela área por se tratar de empresa do setor têxtil.
Ocorre que, na impugnação do laudo citamos os produtos que observamos existirem,
até porque sua presença se faz sentir devido à impregnação da área por
vapores lançados na atmosfera, além de juntar fotos de emissões de poluentes
pelas chaminés da empresa, em diversas oportunidades, o que demonstra,
no mínimo a incompetência do perito designado.
No entanto, devemos ressaltar, que a nossa luta não acabou, aliás entendemos que esta luta não tem fim, pois dificilmente conseguiremos nos livrar dos efeitos permanentes dos contaminantes que estão presentes no nosso organismo. Este “tempo” servirá para refletirmos melhor a nossa atuação no “caso Rhodia”, valorizando este período de afastamento, como que nos preparando para a próxima jogada da Rhodia, que certamente não tardará em acontecer.
Marcio Fernandes da Silva
/ ACPO