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Biópsia de Tecido Adiposo
O Tecido Adiposo
Os adipócitos pertencentes aos depósitos de tecido adiposo amplamente distribuído no organismo, armazenam o excesso de energia na forma de triglicerídios, e quando necessário, liberam energia armazenada na forma de ácidos graxos livres, para serem utilizados em outros locais. Este sistema fisiológico é mediado por meio de vias endócrinas e neurais.
No entanto, na presença de abundância nutricional e de vida sedentária, sob a influência genética, este sistema aumenta as reservas de energia adiposa, causando o excesso de peso.
Índice de Massa Corporal ( IMC)
Embora não seja uma medida direta da adiposidade, o método mais amplamente usado para estimar a obesidade é o Índice de Massa Corporal (IMC), que é igual ao peso (Kg) dividido pela altura (metros) ao quadrado (em Kg/m²). Segundo dados da Metropolitan Life Tables, os IMC para o ponto médio de todas as estaturas e constituições corpóreas entre homens e mulheres variam de 19 a 26 Kg/m², sendo que em um IMC semelhante, as mulheres têm mais gordura corporal que os homens. (Harrison, Medicina Interna, 2002)
Segundo Polishuk (1977), indivíduos
com peso superior a 72(setenta e dois) kilos apresentava maiores
níveis de compostos organoclorados no sangue, e indivíduos com peso
inferior a 63(sessenta e três) kilos, apresentava níveis menores,
devido a menor massa de gordura, portanto menor área de
acúmulo no organismo, e conseqüentemente menor circulação
destes contaminantes na corrente sangüínea. (Polishuk et al., 1977)
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Para dados sobre morbidade substancial, um IMC de 30 Kg/m² é comumente utilizado como um limiar para a obesidade em homens e mulheres. Porém, estudos epidemiológicos sugerem que a morbidade pelas causas metabólicas e cardiovasculares começam a aumentar, embora em uma taxa lenta, quando o IMC é igual ou maior que 25 Kg/m². Alguns especialistas usam o termo “sobre-peso” para descrever os indivíduos com IMC entre 25 a 30 Kg/m².
A distribuição do tecido adiposo em diferentes depósitos anatômicos, também tem deve ser considerada, especificamente a gordura subcutânea intra-abdominal e abdominal, que têm maior importância do que a gordura subcutânea presente nas nádegas e nos membros inferiores.
Muitas das complicações mais importantes da obesidade estão associadas mais eficazmente à gordura abdominal e/ou corporal superior que à adiposidade total. O mecanismo que explica esta associação é desconhecido, porém pode estar relacionado com o fato de que os adipócitos abdominais são mais ativos que os de outros depósitos. (Harrison, Medicina Interna, 2002)
Embora
os valores dos inseticidas organoclorados quantificados serem corrigidos
por unidade de peso (por kilo de gordura), a massa total adiposa de
um indivíduo, pode influenciar no nível quantificado em mg/kg, pois
estes inseticidas são distribuídos e acumulados nos tecidos mais
rapidamente do que metabolizados, sendo que quanto maior a área de
gordura, maior será o acúmulo destes produtos lipofílicos.
No
entanto, não se pode aplicar o mesmo raciocínio para estimar o grau de
efeitos tóxicos, nem tão pouco a reversibilidade destes efeitos, no
indivíduo magro ou gordo, pois o aparecimento de doenças secundárias à
exposição a estes produtos químicos, depende de vários fatores,
principalmente da suscetibilidade individual de cada indivíduo exposto.
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Pode ser quantificado no tecido adiposo de indivíduos fumante, níveis mais elevadas de alguns contaminantes tóxicos, como por exemplo, níveis de agrotóxicos organoclorados lipossolúveis: DDT e metabólitos, HCH (BHC) e isômeros, isto pelo suposto uso clandestino destes produtos em plantações de tabaco em alguns países, apesar de proibidos na maioria dos mesmos. Estas quantificações podem ocorrer também em usuários de drogas.
Quantificação de Inseticidas
Organoclorados e Biópsia de tecido adiposo (gordura)
A quantificação de inseticidas organoclorados em tecido adiposo é mais um exame complementar no processo total de avaliação de uma exposição crônica a estes produtos, pois assim como no caso dos níveis sangüíneos quantificados, os níveis do tecido adiposo, se interpretados de forma isolada, não fecham, e nem descartam diagnósticos de intoxicação crônica por estes compostos, apenas auxiliam, pois os diagnósticos são feitos pela clínica, com anamnese e exame físico executados por médicos especialistas.
Nestes últimos tempos, lamentavelmente os profissionais médicos estão cada vez mais limitando-se a pedirem exames complementares, sem ao menos ouvir, ver e examinar os pacientes.
Quanto aos níveis quantificados, pode ocorrer níveis subestimados nas amostras de tecido adiposo, em relação ao valor real acumulado (em mg/kg) nos depósitos do organismo, pois mesmo utilizando-se metodologia adequada e técnica atualizada, desde da coleta, conservação, transporte e manipulação das amostras, o valor total do produto químico pode estar subquantificado, pela influência de diversas variáveis, como por exemplo, quantidade total de massa adiposa, perda destes produtos na fase de extração dos mesmos das amostras, e outros variáveis que limitam esta
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quantificação no tecido adiposo a ser mais
um instrumento complementar de diagnóstico, ecoando o mandamento mais
importante da medicina ...“a clínica é
soberana”.
Os principais objetivos deste exame de quantificação dos inseticidas organoclorados no tecido adiposo, mediante biópsia in natura, foram:
· Auxiliar os diagnósticos clínicos;
· Auxiliar na avaliação da exposição ambiental de longo prazo desta população do bairro a produtos altamente bioacumulativos;
· Auxiliar no tempo de tratamento e principalmente no tempo de acompanhamento médico destes moradores, pois mesmo quando afastados da fonte de exposição, e com a melhora dos sinais e sintomas apresentados, não estarão livres de desenvolver patologias futuras referentes a esta exposição;
· Auxiliar no nexo causalidade dos efeitos tóxicos com a exposição específica ao “site” industrial contaminado.
As amostras de tecido adiposo dos moradores, foram coletadas do depósito adiposo subcutâneo abdominal, em incisão cirúrgica infra-umbilical, no período de 12 de dezembro de 2001 até 29 de janeiro de 2002, no Centro Cirúrgico do Hospital Municipal de Paulínia - SP, por dois cirurgiões pertencentes ao Corpo Clínico deste hospital, com protocolo de coleta de tecido adiposo em anexo, revisado pela literatura científica.
Foram coletadas amostras de contra-provas, que foram congeladas e guardadas sob a responsabilidade Vigilância Sanitária Municipal de Paulínia.
As análises destas amostras foram realizadas no Laboratório de Cromatografia do Instituto de Química de São Carlos, sob coordenação do Prof. Dr. Fernando M. Lanças, Universidade Estadual de S. Paulo, por Cromatografia Gasosa de Alta Resolução com detector de captura de elétrons (HRGC-ECD) e Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas.
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Os limites de quantificações dos inseticidas organoclorados no tecido adiposo variaram de 0,001 a 0,03 mg/kg, conforme tabela abaixo.
A extração dos inseticidas organoclorados das amostras de gordura, foi realizada de acordo com o método descrito no Journal of Associaton of Official Analytical Chemists. (Waliszewski, S.M. and Szymczynski, G.A., 1982)
Foram feitas quantificações de inseticidas organoclorados no tecido adiposo, da série total de padrões comumente usados nos laboratórios de cromatografia: HCH (BHC) e isômeros, DDT e isômeros, DDD e isômeros, DDE e isômeros, Aldrin, Dieldrin, Endrin e metabólitos, Endosulfan isômeros e metabólitos, Heptacloro, Heptacloro epóxido, entre outros.
Não foi incluído na análise, Dioxinas e Furanos, por exigirem metodologia analítica diferente, e por não haver até o momento das coletas de tecido adiposo dos moradores, pesquisa de tais produtos tóxicos no ambiente, apesar
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da possibilidade dos mesmos também serem contaminantes ambientais daquele local, pelo histórico da existência dos incineradores de combustão incompleta dentro desta área industrial.
Resultados
Até maio de 2003, foi iniciada avaliação de saúde de 263 moradores do B. Recanto dos Pássaros, todos moradores (fixo ou de final de semana) a partir de janeiro de 2001, portanto não foram incluídos ex – moradores e/ou ex – trabalhadores desse “site” industrial.
Esta população de 263 moradores, estão distribuídos segundo Faixa etária:
0 a 15 anos: 67 crianças, 25% da população avaliada.
16 a 59 anos: 168 pessoas, 64% da população avaliada.
60 anos ou mais: 28 pessoas, 11% da população avaliada.
Desta população de 263
pessoas, 118 moradores fizeram a quantificação de inseticidas
organoclorados em tecido adiposo.
Não houve outros critérios de exclusão, a não ser a exclusão das crianças, e dos que por escolha própria não quiseram fazê-la, e os critérios de inclusão foram necessariamente ser morador, e apresentar um ou mais sinais e/ou sintomas sugestivos de intoxicação crônica por inseticidas organoclorados.
Foram excluídas desta biópsia, crianças com idade abaixo de 15 anos, porém três destas com idades entre 13 e 14 anos fizeram a biópsia por apresentarem sintomatologia clínica importante.
Todos os menores de idade fizeram a biópsia mediante a autorização dos pais ou responsáveis.
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Foram excluídas desta análise as amostras de leite materno, e de outros tecidos humanos, como amostras de tireóide, tumor de tireóide, pulmão e tumor de pulmão, sendo que serão descritas e comentadas no próximo e 3° Relatório desta municipalidade.
Os 118 moradores que fizeram biópsia
de tecido adiposo estão distribuídos:
Segundo Faixa etária:
13 a 21 anos: 18 pessoas, 15% das biópsias
22 a 40 anos:
47 pessoas, 40% das biópsias
41 a 59 anos:
39 pessoas, 33% das biópsias
60 anos ou mais: 14 pessoas, 12% das biópsias
Nota-se que 55% dos moradores possuem idade até 40 anos.
Segundo Sexo:
Feminino: 63 pessoas, 53% das biópsias
Masculino: 55 pessoas, 47% das biópsias
Segundo Tipo de moradia:
Moradores fixos : 80 pessoas, 68% das biópsias
Moradores “finais de semana”: 38 pessoas, 32% das biópsias
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Segundo Tempo total de moradia:
01 a 03 anos: 17 pessoas, 14% das biópsias
04 a 07 anos: 32 pessoas, 27% das biópsias
08 a 11 anos: 32 pessoas, 27% das biópsias
12 a 15 anos: 16 pessoas, 14% das biópsias
16 a 20 anos:
07 pessoas, 6%
das biópsias
Mais de 20 anos: 14 pessoas, 12% das biópsias
Tempo total médio de 08 (oito) anos de moradia no bairro destes 118 moradores.
Nota-se que mais de 50% destes 118 que fizeram a biópsia encontra-se na faixa de 04 a 11 anos de moradia.
Segundo Lotes:
Grupo 1 (lotes de 01 a 11): 19 pessoas fizeram a biópsia, correspondendo a 56% do total de moradores destes lotes;
Grupo 2 (lotes de 12 a 27): 42 pessoas fizeram a biópsia, correspondendo a 44% do total de moradores destes lotes;
Grupo 3 (lotes de 28 a 35): 14 pessoas fizeram a biópsia, correspondendo a 34% do total de moradores destes lotes;
Grupo 4 (lotes de 36 a 49): 22 pessoas fizeram a biópsia, correspondendo a 49% do total de moradores destes lotes;
Grupo 5 (lotes de 51 a 66): 21 pessoas fizeram a biópsia, correspondendo a 47% do total de moradores destes lotes.
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Nota-se que praticamente a metade de moradores de cada grupo participaram deste exame complementar, com exceção do grupo 3, que na maioria das variáveis analisadas, representa um grupo de moradores com menores índices de exposição e intoxicação.
Segundo Índice de Massa Corporal (IMC) em kg/m²:
Abaixo de 19 kg/m²: 04 pessoas, 03% das biópsias
Entre 19 a 24 kg/m²: 50 pessoas, 43% das biópsias
Entre 25 a 30 kg/m²: 44 pessoas, 38% das biópsias
Entre 31 a 35 kg/m²: 10 pessoas, 09% das biópsias
Maior que 35 kg/m²: 08 pessoas, 07% das biópsias
Nota-se que 16% destes moradores estão na faixa de IMC acima de 30 kg/m², isto é, considerados obesos. E praticamente a metade (46%) encontra-se na faixa de variação normal para homens e mulheres.
Observação:
total de moradores com IMC = 116, pois não havia dados de altura e peso
de dois moradores.
Segundo Tabagismo:
Não Fumantes: 74 pessoas, 63% das biópsias
Fumantes: 44 pessoas, 37% das biópsias
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