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Comentários Finais

ÞA quantificação dos inseticidas organoclorados Aldrin e Dieldrin nos líquidos biológicos dos moradores do B. Recanto dos Pássaros, indica exposição ambiental unicamente ao site industrial do bairro, próximo as suas residências, descartando-se outros tipo de exposições, como a exposição universal de décadas passadas, por ingesta de alimentos contaminados de outros locais distintos de sua moradia, pelas principais razões:

· O Aldrin em mamíferos é prontamente convertido para Dieldrin, e esta conversão também ocorre em pequenos animais, em plantas e microrganismos. (Larini, L., 1999).

· O Aldrin é raramente encontrado em plantas (WHO, 1989); também não é encontrado na gordura dos animais, portanto não permanece na cadeia alimentar em forma de Aldrin (Frank, R. et al.,1988), e sim de Dieldrin, quando presente nas lavouras nas décadas de 80, ou atualmente quando contaminante ambiental de áreas específicas.

· O Aldrin é raramente encontrado no sangue ou nos tecidos humanos da população em geral, exceto nos casos de exposição acidental ou ingestão por tentativa de suicídio.(WHO, 1989). Após 14 anos desta publicação da Organização Mundial de Saúde, tem-se que acrescentar que a exposição acidental”, ou seja, exposição não intencional, hoje deixou de ser apenas curiosidades de crianças, quando as mesmas ingeriam enganosamente as

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 “iscas” de Aldrin, mas passou a ser exposição ambiental de pessoas comuns da sociedade que residem próximas a áreas contaminadas com este inseticida.

· Das amostras de tecido adiposo (gordura) dos moradores do B. Recanto dos Pássaros que foi quantificado o inseticida Aldrin, 91% das amostras eram de moradores fixos do bairro, isto é, 10 moradores destes moravam 24 h/dia, e 365 dias/ano no bairro, e apenas 01 morador dos 11 era proprietário freqüentador de finais de semana. Sendo também que 82 % das amostras eram de moradores que ainda residiam no bairro na data da coleta da amostra de gordura, sendo que os 02 moradores (18%) que já haviam deixado o bairro, tinham tido contato recente com o mesmo.

Deve-se ressaltar que tratando do inseticida Aldrin, por ser indicador de exposição recente, pode não ter sido quantificado em mais moradores, pelo fato dos mesmos já terem deixado o bairro na ocasião das biópsias, pois houve uma grande variação de tempo do último contato dos mesmos com o bairro, sendo que alguns moradores ainda estavam residindo neste local na data da coleta da amostra de tecido adiposo, e outros já haviam deixado o bairro há quase um ano, por orientação médica.

· A “meia - vida biológica” do Aldrin – Dieldrin nos seres humanos é de 09 (nove) a 12 (doze) meses (WHO, 1989), ressaltando que “meia – vida” é referente à cinética do produto químico no organismo, diferentemente do tempo total de permanência do mesmo no ser humano.

Os níveis mais altos destes inseticidas nos tecidos de depósito do organismo, estão relacionados com a quantidade absorvida diariamente dos mesmos (WHO, 1989), significando que há uma relação do tempo do último contato da exposição com os níveis encontrados nos tecidos de depósito, deixando claro que quando quantificados no indivíduo, o mesmo têm fonte de exposição destes inseticidas recente ou teve em um tempo próximo (inclusive ao Dieldrin).

Þ Os inseticidas organoclorados, especialmente os “Drins”, e o isômero p,p´- DDT, atualmente não são mais quantificados nos tecidos de depósitos da população em geral (não exposta à fonte específica), pelos seguintes motivos apresentados:

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· Segundo Kraybill, H.F. (1969), a via digestiva (consumo de alimentos contaminados) era responsável por 80% dos resíduos de inseticidas da população em geral, isto é aplicável para os inseticidas organoclorados até a proibição da utilização dos mesmos na agricultura.

Porém, vários trabalhos científicos atuais, comprovam que estes resíduos químicos nos alimentos foram paulatinamente diminuindo, durante os anos subseqüentes a proibição dos mesmos.

Segundo a pesquisa de Caldas, E.D., (2000) os inseticidas organoclorados que atualmente ainda estão presentes nos produtos alimentícios analisados, que passaram da IDA (Ingestão Diária Aceitável) em pelo menos em 1(uma) região metropolitana do Brasil, são: Dicofol, Endosulfan, Dicloran, Metacloro, sendo que não há referência da quantificação de outros inseticidas organoclorados nos alimentos consumidos nestas regiões.

· Segundo Rüegg (1986), há um decréscimo do número de amostras de carnes do Brasil, contaminadas por inseticidas organoclorados, observado já no início da década de 80.

No ano de 1980, 27% das amostras de carnes do Brasil analisadas estavam contaminadas com vários organoclorados, decaindo para 5% das amostras analisadas no ano de 1982, e para 3% das amostras no ano de 1984. (Rüegg et. al., 1986)

· Segundo relatórios do PARA (Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos), da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) do Ministério da Saúde do Brasil, não foi quantificado em nenhuma amostra de alimentos in natura analisadas, os inseticidas organoclorados: Aldrin (1143 amostras), Endrin (1143 amostras), DDT total (916 amostras), Clordano (472 amostras), HCH (alfa+beta+delta) (556 amostras, resultado de apenas metade das amostras), Heptacloro (1173 amostras), Heptacloro epóxido (1173 amostras), Lindano (gama-“BHC”) (1080 amostras) coletadas na sua totalidade em quatro estados do Brasil, Paraná, Pernambuco, Minas Gerais e o estado de S. Paulo, relativas ao período de junho de 2001 a junho de 2002.

O inseticida Dieldrin, da totalidade de 916 amostras, foi quantificado em 01 (uma) amostra de cultura de tomate, sendo esta amostra coletada do estado de Pernambuco.

Os inseticidas organoclorados que foram quantificados nestas amostras foram: Dicofol em 2,5 %, e Endosulfan em 2,35 % de 1278 amostras 

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analisadas. Outros como: Metoxicloro (Metoxi-DDT), Mirex (Dodecacloro) não foram quantificados em nenhuma amostra. (ANVISA, 2002 e 2003)

Þ Quanta a quantificação de Inseticidas Organoclorados em tecido adiposo da população em geral, os trabalhos científicos mais recentes consultados referiram presença em comum dos seguintes compostos organoclorados: p,p´-DDE e  PCBs, e alguns referiram quantificação de isômeros de HCH (BHC), porém não referiram mais Dieldrin em níveis de quantificação na população em geral.

USA: (Wolff, M.S. et al., 1993), (ArchibequeEngle, S.L. et al., 1997), (Smith, D., 1999), (Hoppin, J.A.  et  al., 2000);

México: (Waliszewski S.M. et al., 1996), (Waliszewski, S.M. et  al., 1998), (Waliszewski S.M. et al., 1999), (Waliszewski, S.M. et al., 2001);

Grécia: (Kamarianos, A. et al., 1997); Japan: (Sasaki, K. et al., 1991), (Loganathan, B.G.  et  al., 1993); Groenlândia: (Dewailly, E.  et  al., 1999);

Bélgica: (Pauwels, A. et  al., 2000); Finlândia: (Smeds, A. and Saukko, P., 2001); Espanha: (Tofigueras, J. et  al., 1995); Coréia: (Kang, Y.S. et al., 1997); Alemanha: (Karmaus, W. et  al., 2001).

Dieldrin é referido quantificado em tecido adiposo da população em geral, em trabalhos publicados até 1992.

Kênia (Kanja, et al., 1992); Índia (Nair, A., et al., 1992);

Espanha (Hernandez, L.M. et al., 1992)

Durante a época de intenso uso indiscriminado dos inseticidas organoclorados na agricultura e nas campanhas de saúde pública, por exemplo, no período de 1961 a 1977, nos EUA e Reino Unido, a média dos valores quantificados de Dieldrin no tecido adiposo da população em geral, daquela época, foi em torno de 0,10 a 0,30 mg/kg de gordura, porém nestes países foi demonstrado a partir de 1975, já um declínio de 50% na concentração do Dieldrin no tecido adiposo da população em geral. (Abbott, D. C. et al.,1981)

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  No Brasil, nos anos 1969 e 1970, a média da quantificação de Dieldrin no tecido adiposo de pessoas da população em geral, foi de 0,02 mg/kg de gordura em um grupo 17 pessoas, e de 0,12 mg/kg de gordura em outro grupo de 69 pessoas com idade igual ou superior de 25 anos, residentes no estado de S. Paulo. (Wassermann, M., et. al., 1972)

Þ A presença de inseticidas organoclorados e de metais pesados (estes acima dos níveis de referências adotados) quantificados em amostras de crianças, principalmente das mais novas deste bairro, demonstra contaminação química ambiental deste “site” industrial a estes respectivos produtos químicos, pois se trata de crianças que nasceram, alimentaram-se de leite e produtos do local, e que nunca moraram, e nem tão pouco freqüentavam escolas ou creches de outros bairros. É descrito na literatura, que a criança é um indicador importante de exposição ambiental a produtos tóxicos.

Þ Conclui-se ainda que outros contaminantes ambientais, além do Aldrin e Dieldrin deste site industrial, também atingiram a população do bairro, tais como: Endrin (metabólitos), Endosulfan, DDT (isômeros), Hexaclorobenzeno, Chumbo, Alumínio, e Arsênico.

Þ Os dados analisados sugerem que os níveis dos produtos químicos quantificados nos líquidos biológicos desta população do bairro descritos a seguir, também são contaminantes deste site industrial, seja por serem exclusivos desta área, ou por serem produtos, que embora  possam ser considerados como contaminantes “universais” (isto é, da população em geral) adicionaram ao organismo destes moradores quantidades significativas destes produtos químicos, pela exposição a este site industrial, são: Hexaclorociclohexano (HCH ou “BHC”) e isômeros, Heptacloro, Heptacloro epóxido, DDE, e os metais Cobre, Zinco.

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 Þ Os dados analisados sugerem que os metais pesados Cádmio e Manganês, estão presentes como contaminantes da área interna deste “site” industrial, atingindo indivíduos que tiveram exposição mais direta a este local. Ressalta-se que os metais pesados que atingiram a população moradora deste bairro, bem como o Cádmio e o Manganês devem fazer parte da avaliação da saúde de todos os trabalhadores e ex-trabalhadores desta área industrial.

Þ Fica evidente que existem áreas deste “site” industrial que não foram analisadas pelos órgãos ambientais envolvidos, suspeitas de conterem focos destes contaminantes da população do bairro, como áreas do “site” da empresa Shell, de frente as chácaras 4287, 4292, 4311, 4151, 4543, 4563, que representa uma faixa distante das atividades industriais, porém com uma concentração importante de pessoas com intoxicação crônica e exames alterados, assim como na faixa das chácaras 2979, 3201, 3907, 4039, 4085, sendo de extrema importância a análise destas áreas citadas, para uma recuperação completa deste “site” industrial contaminado por diversos produtos químicos altamente tóxicos.

Os demais dados e comentários serão acrescentados no próximo Relatório desta Municipalidade.

Este 2° Relatório da Avaliação do Impacto na Saúde dos Moradores do Bairro Recanto dos Pássaros foi elaborado pela Prefeitura Municipal de Paulínia-SP, com grande cooperação do atual Prefeito Edson Moura e de seus Secretários, especialmente do Secretário de Saúde Dr. Almério Aguiar Melo Filho e do Secretário do Meio Ambiente Dr. Washington Carlos Ribeiro Soares, e de todos os funcionários que bem atuaram direta ou indiretamente nesta avaliação, escrito pelos médicos:

Dra Claudia Regina Guerreiro, Médica Sanitarista, Especialista em Toxicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), funcionária desta Municipalidade, e pelo Prof. Dr. Igor Vassilieff, MD, PhD, Professor Titular de Farmacologia aposentado, e Médico Especialista em Toxicologia pela Universidade de Paris (França) e Universidade de McGill e Otawa (Canadá).

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