Autoria:

Objetivos deste 2° Relatório:

I. Compilar dados da avaliação do Impacto na Saúde da população do B. Recanto dos Pássaros, exposta ambientalmente à área industrial contaminada por compostos organoclorados e metais pesados.

II. Detalhar dados do 1° Relatório desta Avaliação da municipalidade, principalmente dados de níveis sangüíneos dos produtos químicos encontrados nestes moradores.

III. Apresentar e discutir dados da Quantificação de Inseticidas Organoclorados no tecido adiposo desta população.

IV. Estabelecer o nexo causalidade de contaminantes ambientais desta área industrial, com os níveis quantificados de produtos tóxicos nos líquidos biológicos desta população.

V. Gerar dados para a construção do nexo causalidade entre os contaminantes ambientais, e as doenças, sinais e sintomas encontrados nesta população, que serão amplamente discutidos no 3° relatório, bem como nos próximos.

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Metodologia

1. Estudo detalhado do Inquérito Civil 001/95, que descreve os contaminantes do “site” industrial, locais atingidos pelos mesmos, níveis e tipos de contaminação, a fim de se estabelecer quais os contaminantes que deverão ser analisados na população supostamente exposta. Foram definidos os seguintes compostos a serem inicialmente investigados:  Inseticidas Organoclorados, e os Metais Pesados: Chumbo, Cromo, Cobre, Ferro, Zinco, Alumínio, Cádmio, Arsênico, e Manganês.

2. Determinados os compostos que podem estar atingindo a população, revisão de literatura científica para estabelecer quais dos compostos são passíveis de averiguação por análise de líquidos biológicos. Foram definidos os seguintes compostos a serem inicialmente quantificados no sangue dos moradores: série total dos Inseticidas Organoclorados, e os Metais Pesados: Chumbo, Cromo, Cobre, Ferro, Zinco, Alumínio, Cádmio, Arsênico, Manganês.

3. Definidos os compostos que serão analisados no sangue, e em outros líquidos biológicos, estabelecer metodologia analítica mais adequada para cada um deles. Foram definidos que os organoclorados seriam quantificados com a técnica analítica de Cromatografia Gasosa com coluna capilar e automatização, com nível de sensibilidade de 0,01 microgramas/litro, e nível de quantificação de 0,1 micrograma/litro, e foi definido que os metais pesados deveriam ser quantificados pela Espectrofotometria de Absorção Atômica, com técnica de preparo por microondas ou digestão por ácidos, determinados em microgramas/decilitro.

4. Definidas as metodologias analíticas a serem adotadas, definir níveis aceitáveis dos exames a serem realizados. Foi definido que os valores sangüíneos dos inseticidas organoclorados seriam apenas indicadores biológicos de exposição, e não indicadores biológicos verdadeiros de intoxicação humana, assim não se adotou valores limites para os mesmos; os níveis sangüíneos dos metais pesados, foram estudados individualmente

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sendo possível resumir que alguns foram adotados como indicadores biológicos de exposição, e outros como indicadores biológicos  verdadeiros, como por exemplo o Cádmio e o Manganês respectivamente.

5. Revisão de literatura científica das doenças e agravos relacionados à exposição de cada contaminante, até então já definidos.

6. Criação de uma ficha de investigação, contendo dados epidemiológicos sócio-econômicos, anamnese (questionário de sinais e sintomas) detalhada e dirigida para todos os efeitos tóxicos dos inseticidas organoclorados e metais pesados descritos na literatura, e roteiro de exame físico geral .

7. Definição dos exames complementares iniciais que auxiliarão na confirmação ou não de casos de intoxicações por produtos químicos. Foram definidos os seguintes exames: Hemograma completo, Função hepática  (ALT e AST - transaminases hepáticas, e gama GT - gama glutamil transferase), Função renal (Uréia e Creatinina), Ultra-sonografia de tireóide e dosagens dos hormônios tireoidianos, quando esta glândula apresentar  aumento na palpação durante o exame físico, e conforme as queixas dos moradores, solicitar: Ultra-sonografia abdominal, dosagens sangüíneas dos hormônios sexuais, Eletroneuromiografia, Prova de Função Pulmonar, Endoscopia digestiva, Radiografias, Eletroencefalograma, e etc..

8. Definição dos critérios de inclusão do grupo a ser estudado, grupo definido como população de estudo. Foram incluídos todos que voluntariamente procuraram pela nossa equipe de trabalho, e que preenchiam os seguintes critérios: moradores fixos atuais, ou os que haviam deixado o bairro  a partir de janeiro/2001, e os proprietários, “moradores de finais de semana”.

9. Avaliação Médica Toxicológica de cada morador, que inclue aplicação de ficha de investigação, realização de exame físico geral, verificando

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principalmente: pressão arterial, ritmo cardíaco, visceromegalias, glândula tireóide, pulmão, exame neurológico e dermatológico.

10. Investigação de cada sintoma referido, bem como de cada sinal apresentado, mesmo que aparentemente não estejam ligados aos definidos como relacionados à exposição química, pois não se pode subestimar nenhuma queixa nesta avaliação.

11. Definição de critérios de diagnósticos. Foi adotado o seguinte critério para a conclusão diagnóstica individual: A CLÍNICA, auxiliada por exames de análise toxicológica e exames complementares.

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 Resultados

Iniciou-se até maio de 2003, avaliação de saúde de 263 moradores do B. Recanto dos Pássaros, pela Prefeitura Municipal de Paulínia-SP.

O critério de inclusão foi necessariamente ser morador fixo ou proprietário de chácaras (freqüentador de finais de semana) do bairro a partir de janeiro de 2001. Assim não foram incluídos nesta avaliação de saúde: ex-moradores, ex-proprietários, trabalhadores e/ou ex- trabalhadores do “site” industrial.

Resultados de 181 moradores (primeiros avaliados)

Os resultados aqui apresentados foram obtidos da avaliação completa segundo o protocolo inicial, de 181 moradores do Bairro Recanto dos Pássaros, avaliados entre abril a junho de 2001, representando aproximadamente 70% da população total do bairro.

Estes 181 moradores avaliados estão distribuídos:

Segundo Faixa etária:

0 a 15 anos:          50 crianças, 28% destes 181 moradores avaliados.

16 a 40 anos:        72 pessoas, 40% destes 181 moradores avaliados.

41 a 59 anos:        39 pessoas, 21% destes 181 moradores avaliados.

60 anos ou mais:  20 pessoas, 11% destes 181 moradores avaliados.

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 Segundo Sexo:

Feminino:  100 pessoas, 55% destes 181 moradores avaliados.

Masculino:   81 pessoas, 45% destes 181 moradores avaliados.

Segundo Tipo de moradia:

Moradores fixos:              135 pessoas, 75% destes 181 moradores avaliados.

Moradores “finais de semana”: 46 pessoas, 25% destes 181 moradores avaliados.

Segundo Tempo total de moradia:

06 meses até 01 ano:   5 pessoas, 03% destes 181 moradores avaliados.

01 até 03 anos:          22 pessoas, 12% destes 181 moradores avaliados.

03 até 07 anos:          58 pessoas, 32% destes 181 moradores avaliados.

07 até 11 anos:          56 pessoas, 31% destes 181 moradores avaliados.

11 até 15 anos:          22 pessoas, 12% destes 181 moradores avaliados.

15 até 20 anos:          06 pessoas, 03% destes 181 moradores avaliados.

Mais de 20 anos:       12 pessoas, 07% destes 181 moradores avaliados.

Nota-se que 63% destes 181 moradores avaliados residiram no bairro por um período de 03 a 10 anos, sendo que 85% destes têm mais de 03 anos de permanência no local.

Tempo mínimo de moradia:   09 (nove) meses

Tempo máximo de moradia:  37 (trinta e sete) anos

Tempo médio de moradia:   08 (oito) anos destes 181 moradores avaliados.

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Nota-se que 47% destes moradores avaliados tiveram tempo total de moradia de até 07 anos, significando que se em 1995, no ano da auto-denúncia da empresa envolvida na contaminação ambiental deste “site industrial”, a população do Bairro Recanto dos Pássaros tivesse sido retirada do local pelo Risco Potencial que corriam de serem atingidas pelos contaminantes tóxicos desta área industrial, de frente às suas casa, quase a metade destes moradores não teriam sido expostos a estes contaminantes ambientais, nem tampouco estariam hoje, sendo incluídos na estatística de intoxicação crônica por produtos químicos e seus agravos.

Segundo Último contato com o bairro:

Até um mês:                175 pessoas, 97% destes 181 moradores avaliados.

De 01 mês a 06 meses:  04 pessoas, 02% destes 181 moradores avaliados.

Mais de 06 meses:         01 pessoa,  01% destes 181 moradores avaliados.

Segundo Tempo total de ingestão de água do aqüífero do bairro:

Não ingeriu água:               20 pessoas, 11% destes moradores avaliados.

Ingestão até um ano:          16 pessoas, 09% destes moradores avaliados.

Ingestão de 01 até 03 anos: 24 pessoas, 13% destes moradores avaliados.

Ingestão de 03 até 05 anos: 24 pessoas, 13% destes moradores avaliados.

Ingestão de 05 até 10 anos: 66 pessoas, 36,5% destes moradores avaliados.

Ingestão de 10 até 15 anos: 16 pessoas, 09% destes moradores avaliados.

Ingestão mais de 15 anos:   15 pessoas,  8,5% destes moradores avaliados.

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Nota-se que 80% destes 181 moradores ingeriram água do local por um período de tempo maior que 01 (um) ano. É importante ressaltar que neste tempo total de consumo de água, já foi descontado o tempo de uso de água de outras fontes, como por exemplo, tempo de ingestão de água de caminhão pipa, ou da Sabesp, etc..

Segundo Última data de ingestão de água do aqüífero do bairro:

Até um mês:                      18 pessoas, 10% destes 181 moradores avaliados.

De 01 até 06 meses:          68 pessoas, 38% destes 181 moradores avaliados.

De 06 mês até 01 ano:       11 pessoas, 06% destes 181 moradores avaliados.

De 01 até 03 anos:             37 pessoas, 20% destes 181 moradores avaliados.

De 03 até 05 anos:             18 pessoas, 10% destes 181 moradores avaliados.

Mais de 05 anos:                09 pessoa,  05% destes 181 moradores avaliados.

Não ingeriu água:              20 pessoas, 11% destes 181 moradores avaliados.

Nota-se que 35% destes 181 moradores avaliados já não mais ingeriam água do aqüífero do bairro mais de 01 (um) ano, somando com 11% que nunca ingeriu desta água, tem-se 46% destes moradores que não ingeriram água do local desde abril de 2000.

Segundo Tempo total de ingestão de leite bovino do bairro:

Não ingeriu leite:                 39 pessoas, 21,5% destes moradores avaliados.

Ingestão até um ano:           21 pessoas, 12% destes moradores avaliados.

Ingestão (01 até 03 anos):   15 pessoas, 08% destes moradores avaliados.

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Ingestão (03 até 05 anos):   28 pessoas, 15,5% destes moradores avaliados.

Ingestão (05 até 10 anos):   53 pessoas, 29,5% destes moradores avaliados.

Ingestão (10 até 15 anos):   15 pessoas, 08% destes moradores avaliados.

Ingestão mais de 15 anos:   10 pessoas,  5,5% destes moradores avaliados.

Nota-se que 78,5% destes 181 moradores avaliados ingeriram leite bovino do local, sendo que 66,5% destes ingeriram mais de 01 (um) ano.

Segundo Tempo total de ingestão de carnes (aves, suína e/ou bovina) de animais criados no bairro:

Não consumiu:                         30 pessoas, 17% destes moradores avaliados.

Consumiu até um ano:            17 pessoas, 09% destes moradores avaliados.

Consumiu de 01 até 03 anos:  15 pessoas, 08% destes moradores avaliados.

Consumiu de 03 até 05 anos: 33 pessoas, 18% destes moradores avaliados.

Consumiu de 05 até 10 anos: 59 pessoas, 33% destes moradores avaliados.

Consumiu de 10 até 15 anos: 15 pessoas, 08% destes moradores avaliados.

Consumiu mais de 15 anos:   12 pessoas,  07% destes moradores avaliados.

Nota-se que 83% destes 181 moradores avaliados consumiram carnes provenientes do local, sendo que 66% destes 181 moradores consumiram mais de 03 (três) anos.

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Segundo Tempo total de ingestão de ovos, verduras, legumes e/ou frutas do bairro:

Não consumiu:                         02 pessoas, 01% destes moradores avaliados.

Consumiu até um ano:            12 pessoas, 07% destes moradores avaliados.

Consumiu de 01 até 03 anos:  22 pessoas, 12% destes moradores avaliados.

Consumiu de 03 até 05 anos: 31 pessoas, 17% destes moradores avaliados.

Consumiu de 05 até 10 anos:77 pessoas, 42,5% destes moradores avaliados.

Consumiu de 10 até 15 anos:19 pessoas, 10,5% destes moradores avaliados.

Consumiu mais de 15 anos:   18 pessoas, 10% destes moradores avaliados.

Nota-se que 99% destes 181 moradores avaliados consumiram pelo menos um destes grupos de alimentos provenientes do local, sendo que 92% destes 181 moradores consumiram mais de 01 (um) ano.

Estes 181 moradores foram divididos em grupos de lotes, segundo os seguintes critérios: localização do lote, relevo do local, direção dos aqüíferos, dos ventos, e dos micro-particulados do ar gerados no “site” industrial, como ilustrado na figura abaixo retirada do Inquérito Civil Público 001/95.

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PARA AMPLIAR CLIQUE NA FIGURA

Segundo Grupos de Lotes:

Grupo1 (lotes de 01 a 11): 18 pessoas, 10% destes 181 moradores avaliados.

Grupo2 (lotes de 12 a 27): 70 pessoas, 39% destes 181 moradores avaliados.

Grupo3 (lotes de 28 a 35): 24 pessoas, 13% destes 181 moradores avaliados.

Grupo4 (lotes de 36 a 49): 32 pessoas, 18% destes 181 moradores avaliados.

Grupo5 (lotes de 51 a 66): 37 pessoas, 20% destes 181 moradores avaliados.

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PARA AMPLIAR CLIQUE NA FIGURA

Nota-se nos 181 moradores avaliados que:

· 37% destes acima de 15 anos são fumantes.

· 10% destes acima de 15 anos são etilistas.

· 69% destes acima de 15 anos referiram voluntariamente (sem serem questionados sobre este assunto) a presença de cheiro forte de produto químico dentro de suas casas.

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Das 50 crianças destes 181 moradores avaliados:

Segundo Idade:

0  a  07 anos:     23 crianças, 46% destas 50 avaliadas.

08 a 12 anos:     17 crianças, 34% destas 50 avaliadas. (Pré-adolescentes)

13 a 15 anos:      10 crianças, 20% destas 50 avaliadas. (Adolescentes)

Foi considerado período de adolescência, período da vida humana que começa com a puberdade, e que se caracteriza por mudanças corporais e psicológicas, podendo estender-se aproximadamente, dos 13 aos 20 anos.

Nota-se que 46% destas 50 crianças avaliadas, praticamente a metade destas são de menores de 08 anos.

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